domingo, 8 de dezembro de 2019

Rasa-


Me escute um pouco, menina mundana,
Seu orgulho te traiu na sua própria ilusão.
Essa hipocrisia reflete em seu espelho.
Porque seus passos te levaram para um beco sem saída.

Hoje você pára de frente à plateia
E pleiteia a ideia, estufa o peito,
Como se as suas palavras belas
Escondessem a lama entre-dentes.

Fala de yhwh, do povo de Abraão
Mas mastiga o presente da serpente,
Não percebe a ironia que se espalha.
Não se preocupe, sua plateia é surda.

Enquanto isso os deuses escondem a face de você
Que finge inocência mas não mostra sua alma putrefata.
Seja Freya, Shiva, Vênus, Oxum, Buda ou Isis.
Você é apenas uma linha torta na história que te apaga.

Menina, como deusa-mãe que porta a vida,
Não carrego ódio no peito, apenas pena
Mas não se esqueça, o espelho não mente.
E apesar das linhas de cegos, eu te vejo apodrecer...

sexta-feira, 8 de março de 2019

Ruínas
















Amor, o mais doce de todos venenos
Engulo até a última gota deste licor
Buscando te forçar dentro de mim
Para me trazer um momento de verdade.

Minhas lágrimas são inúteis como meus gritos,
O passado já derrubou todas minhas peças
E minha rainha entre o inimigo e seu rei
Treme ao que há em suas costas mais do que à frente.

A poesia irrompe em muitos versos caóticos
Como minha mente que você chama de louca
Na tentativa de expor o cancro sentimental
Que devora a alma daqueles que foram quebrados.

Deixe-me sangrar mais uma vez como antes
Chore entre minhas coxas por seus pecados
Porque aquilo que era sagrado foi corrompido
E eu não sei como reconstruir as ruínas do que você destruiu.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Kafkaniana


















Um dia acordei e havia virado um inseto
Toda a culpa do mundo era meu peso
E cada erro que havia feito era um crime
Do qual nenhum ato bom meu seria lembrado.

Me definiam como asquerosa e detestável
E qualquer pessoa do mundo era melhor
Do que a imagem que havia em mim,
Não havendo beleza sequer em minhas palavras.

Todos apontavam os dedos dizendo conselhos
Sobre como eu havia me colocado naquela situação.
Todos abaixam seus olhos, ignorando a imprevisibilidade.
Eu era um inseto que não cabia amor ou perdão, apenas indiferença.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Deusa


Eu dei tudo que eu podia
Criei vida em cada parede
Trouxe cores para seu cinza
Dei forças para sua letargia

Eu gastei toda minha energia
Eu permiti cada vontade sua
Mesmo quando foram afiadas
E acabei machucando meu coração

Eu trouxe magia ao mundo
Coloquei toda minha luz
Em um pontinho e te entreguei
Quase me matando no processo

Me ajoelhei por meus pecados
Me rasguei por cada uma das suas dores
Aceitei teus açoites sob seu ódio
Ouvi sobre como era apenas um grão
No meio de toda areia de toda praia

Por fim eu não era suficiente
E o canto das sereias lhe levaram
Enquanto eu rasgava meu próprio peito
Para lhe entregar meu coração pulsante.

Vazia


Pedaços de alma em cacos,
Tão afiados como palavras
Que saiam de seus lábios,
Eu queria beijar até sangrar.

Minha alma se tornou vazia,
Quebrada mais uma vez.
Este mundo não é pra mim
Quando só me fazem sangrar.

No fim você me colocou na estante
E eu era como milhares de outras,
Pronta para ser usada ou trocada,
Odiada e cuspida como uma puta.

No fim somos um útero, utilidade.
Olhos condenados a serem vazios.
Um maldito saco de areia, objeto.
Apenas uma folha seca ao vento.